Elementais

"Era uma vez Oberón, o Rei dos Elfos, e Titânia, a Rainha das Fadas.
Os dois supremos do Mundo Encantado se odiavam profundamente...
Até o dia em que juraram, um ao outro, amor eterno."

06/04/2014

Elementais - 01

"
que te aflige, minha estimada Senhora?” – Perguntou Oberón. Titânia, que estava sentada em seu trono de vinhas e flores perfumadas olhou-o. – “Meu querido Oberón, o tempo urge! Salaiater jurou vingança, e apenas nossos esforços não são capazes de detê-lo.” – Ela parecia triste, abatida. Seus olhos cor-de-jade brilhavam por não saber o que fazer. – “Temo pela segurança de...”

— Não tema, minha querida Titânia. Não deixarei que nada de mal aconteça a ti. Nem a ninguém. – Oberón segurou as mãos dela com carinho. Era um homem forte, alto, longos cabelos lisos e negros. Tinha o rosto jovem e delicado como o da maioria dos elfos da floresta. Seu peitoral definido estava nu sob o manto vermelho. As manoplas douradas adornadas com pequenas safiras pesavam em seus pulsos. Usava calças marrons e botas de couro. Seus olhos azuis estavam pensativos, perante a preocupação da esposa.
— Não quero que nenhum mal aconteça a ela, meu querido marido. Temo por toda Mirror, mas também temo pela vida dela.
— Não se preocupe minha querida. Ela estará a salvo. Mas precisaremos mandá-la para o Mundo Humano.
As lágrias se projetaram nos olhos cristalinos de Titânia e Oberón a abraçou, acalentando seus soluços singelos. – “Não chores, minha Rainha. É o melhor para ela. Crescer entre os humanos, longe das intenções malignas de Salamaiter. Nós poderemos vigiá-la, e...” – ele mesmo segurou um soluço e falou com a voz embargada. – “Nossa filha não crescerá no meio da guerra.”


Lílieth acordou particularmente feliz aquele dia, pois estava de mudança. Era a última semana de férias escolares e sua antiga escola lhe faria muita falta, mas uma vida nova a esperava. Aos pés da cama, a grande mala ainda estava aberta e sobre a escrivaninha, uma longa lista do que nela continha, apenas esperando para ser conferida uma última vez.
Saiu de sua cama alegremente. Olhou-se no espelho e inspirou o ar de felicidade, quente como o verão que ainda não havia chegado.
Era linda, e sabia disso. Os cabelos curtos, lisos, negros, brilhantes e perfeitos emoldurando o rosto delicado, de pele macia e sem qualquer marca de espinha. Era de estatura baixa, tinha o corpo pequeno, o que já lhe rendera vários troféus de ginástica olímpica, sua paixão.
Chegou à cozinha pequena e encontrou sua mãe terminando de arrumar um farto café da manhã.
 — O que é tudo isso? – perguntou uma Lílieth sorridente sentando-se em seu lugar à mesa.
 — Uma comemoração. – Cantarolou sua mãe, colocando uma jarra de suco sobre uma base de cortiça. – Segunda posição em uma prova tão difícil como aquela, eu não poderia esperar nada melhor. Coma direitinho e pegue suas coisas.
Lílieth respirou fundo e sorriu radiante, vendo sua mãe sentando-se à sua frente. A sombra que a observava por trás da cortina da janela sorriu triunfante e sumiu envolto em chamas.

Fiona terminou de tomar café, dobrou o guardanapo e o deixou sobre a mesa. Levantou-se e seguiu para o banheiro. Penteou os longos cabelos dourados para trás, prendeu-os com uma simples tiara, seguiu para seu quarto para terminar de arrumar as suas coisas.
 — Fiona, querida. – sua mãe deu leves batidinhas na porta aberta.
 — Sim, mamãe?
 — Pronta? Quero chegar cedo para que não precise fazer tudo correndo.
Fiona terminava de guardar carinhosamente o violino que herdara de seu avô. Levantou-se e sorriu para a mãe. – “Já estou acabando, mamãe. Tenho certeza de que não vamos nos atrasar.”
O vento soprou suavemente pela janela aberta, fazendo balançar os cabelos leves da menina, e a sombra que estava na sacada sorriu e sumiu com a brisa.

 — Carlota! Vamos nos atrasar! – uma mulher loura toda arrumada esperava apoiada em seu carro do último ano, com a porta do motorista aberta. Uma garota de aparentes 13 anos vinha correndo da porta do elevador, passando pelos outros carros. – “Carlota, não, mamãe. É ‘Cookie’!” – Também loura, de cabelos ondulados e na altura dos ombros, com mechas azuis
 — Nada disso! Não vou te chamar de apelido comestível! Agora entra no carro, senão a gente se atrasa!
 — Escola nova no meio das férias, ninguém merece! – Carlota esticou os pés sobre o painel do carro enquanto sua mãe o manobrava para fora da garagem.
 — Tire os pés do meu painel, mocinha. Seu pai vive fazendo isso também. Que hábito horrível.
Carlota fez um bico, sentou-se corretamente. – “Eu não entendi como foi que eu passei nesse vestibular... eu nem estudei direito...”
 — Às vezes, filha, nem é uma escola tão boa assim. Tem certeza de que quer sair da sua escola?
 — Não sei... – disse colocando distraidamente os pés no painel do carro.
 — Já mandei tirar os pés do painel, Carlota!
 — Ai, ta boommm... – botou os pés para baixo meio que a contragosto e olhou pela janela. Etavam passando por um grande lago em cujo centro, uma ilhota flutuava singelamente. A menina pensou ter visto algo brilhando perto da ilha, não um reflexo do Sol, mas alguma coisa diferente. Não desgrudou os olhos do lago até as árvores tomarem conta do caminho para a nova escola.
Quem a observava sorriu, mergulhou na água sem fazê-la se mover, tornando-se parte dela, e desapareceu.

O carro simples e preto adentrou um longo estacionamento do lado de fora do imenso castelo. Uma mulher de cabelos castanhos com luzes douradas saiu do carro e olhou o lugar. – “Anda, Sibelle, sai daí.”
Uma menina de aparentes 13 anos saiu do carro, com seus longuíssimos cabelos castanhos, seus grandes óculos e sua feição melancólica. Olhou para cima, para a maravilhosa arquitetura, suspirou longa e tristemente e seguiu a mãe em direção à entrada. Logo no hall havia quatro colunas sustentando o teto e em cada coluna havia uma estátua de uma mulher em tamanho natural, vestidas com algo semelhante a túnicas gregas.
A primeira era de uma sereia de cabelos longos, a cauda enrolada no pilar o corpo projetado para frente com as mãos estendidas, unidas como se oferecessem um pouco de água a alguém. A segunda era uma linda mulher com os cabelos caídos nos ombros, as mãos frente ao peito, como se rezasse, um dos joelhos estava dobrado. A mulher seguinte tinha os cabelos longos até o quadril amarrado em um simples rabo-de-cavalo e enrolado em vinhas desde o topo da cabeça. Estava ereta, com a mão direita erguida e espalmada para o céu, o braço esquerdo colado ao corpo, com a mão espalmada para o chão. A última mulher também estava ereta, a mão direita levemente esticada para frente, como se oferecesse algo, assim como a Sereia, tinha os cabelos pouco abaixo dos ombros e um olhar misterioso, apesar de ter os olhos isentos de íris, assim como as demais. Todas tinham marcas pelo corpo, marcas estranhas; riscos, setas, espirais. Sibelle parou diante da mulher de cabelos amarrados com vinhas, hipnotizada por aquela figura. Apesar de a estátua estar de olhos fechados, eles queriam lhe dizer alguma coisa, mas ela não conseguia identificar.
Terra, foi o que pensou, ela simboliza a terra. Não soube por que teve aquele pensamento, balançou a cabeça para se libertar daquela ideia boba, eram apenas estátuas. Algo chamou sua atenção logo ao lado. Parecia que havia alguém ali, atrás das plantas e deu o primeiro passo em direção a elas, quando sua mãe apareceu na entrada com a cara fechada.
 — Sibelle... ENTRA!
Sibelle engoliu em seco e seguiu para dentro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário